
EUA condena o Brasil e elogia El Salvador em relatório sobre direitos humanos

Os Estados Unidos publicaram, nesta terça-feira (12), um relatório sobre direitos humanos no mundo ajustado às prioridades do presidente Donald Trump, no qual exaltam seus aliados, como El Salvador, e criticam aqueles que consideram rivais, como o Brasil.
Este relatório anual costuma gerar polêmica independentemente do partido no poder, mas neste ano o Departamento de Estado ajustou a parte redigida pelo governo do ex-presidente democrata Joe Biden, por exemplo, no que se refere às políticas favoráveis à diversidade ou ao aborto.
Em política externa, aconteceu o mesmo. Washington critica países com os quais mantém uma relação tensa, como o Brasil e a África do Sul.
- Ataque ao Brasil -
"A situação dos direitos humanos no Brasil se deteriorou" em 2024, lê-se no texto dias após os Estados Unidos imporem tarifas de 50% ao país pelo que consideram uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), julgado por uma suposta tentativa de golpe em 2022.
Para Washington, que recentemente sancionou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os tribunais brasileiros adotaram medidas "desproporcionais para minar a liberdade de expressão" na internet.
Na lista dos maus alunos da América Latina, Washington também inclui Venezuela e Nicarágua, onde diz que a situação dos direitos humanos "piorou" no ano passado. Não vê "mudanças significativas" em Cuba, outro país latino-americano muito criticado pelo chefe da diplomacia Marco Rubio.
- O caso europeu -
Também se saíram mal alguns dos aliados europeus dos Estados Unidos, como Reino Unido, Alemanha e França, onde consideram que a situação se deteriorou, principalmente no que diz respeito à liberdade de expressão. Não vê mudanças na Espanha.
Não é a primeira vez que a administração Trump percebe suposta censura na Europa.
O vice-presidente JD Vance deixou os alemães e os europeus em geral atônitos com um discurso pronunciado em Munique em fevereiro, no qual afirmou que a liberdade de expressão está "retrocedendo" na Europa, em especial na Alemanha.
Por outro lado, Trump vê com bons olhos a gestão do presidente salvadorenho Nayib Bukele, um grande aliado do republicano em sua luta contra a imigração ilegal, que se dispôs a encarcerar imigrantes deportados pelos Estados Unidos em troca de dinheiro.
"Não houve relatos confiáveis de abusos significativos de direitos humanos" no país, afirma o Departamento de Estado.
"Os relatos de violência de gangues permaneceram em um mínimo histórico sob o estado de exceção" graças às "detenções em massa", acrescenta.
Este panorama apologético contrasta com as denúncias das ONGs e dos imigrantes detidos no Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot) de El Salvador, para onde Trump deportou em março mais de 250 venezuelanos acusados de pertencerem à gangue Tren de Aragua.
Eles mais tarde foram libertados como parte de uma troca. Uma vez livres, vários desses imigrantes contaram à AFP terem vivido um inferno com espancamentos constantes, comida estragada e celas de punição minúsculas.
Além disso, em um relatório de julho de 2024, a Human Rights Watch documentou violações de direitos humanos contra crianças em El Salvador.
Outra ONG, Socorro Jurídico Humanitário, denunciou até mesmo ao Tribunal Penal Internacional (TPI) casos de tortura, desaparecimentos de pessoas e mortes de presos neste país sob o regime de exceção invocado por Bukele como parte de sua "guerra" contra as gangues.
Israel, outro grande aliado de Trump, se beneficia das alterações.
Washington reconhece casos de prisões arbitrárias e assassinatos por parte de Israel, mas afirma que as autoridades tomaram "medidas confiáveis" para identificar os responsáveis.
Senadores democratas expressaram meses atrás sua preocupação com as mudanças introduzidas no relatório que, segundo eles, prejudicam a credibilidade dos Estados Unidos.
M.Anderson--SMC